domingo, 22 de maio de 2011

Os erros do Espírito Santo(aos nossos olhos)


Pare evitar melindres, digo logo que o título é retórico, e não literal. Perco parte do impacto, mas evito logo os caçadores de heresia. Não tenho muita paciência com gente que procura chifre em cabeça de cavalo, e por isso esclareci logo.

Filipe estava pregando para uma multidão, e o Espírito o removeu para o deserto. Tirou-o do meio de um trabalho de massa e de grande impacto. É que lemos em Atos 8.12-13: “Mas, quando creram em Filipe, que lhes pregava acerca do reino de Deus e do nome de Jesus, batizavam-se homens e mulheres. E creu até o próprio Simão e, sendo batizado, ficou de contínuo com Filipe; e admirava-se, vendo os sinais e os grandes milagres que se faziam”. Filipe tivera discernimento e fora para a Samária: “E descendo Filipe à cidade de Samária, pregava-lhes a Cristo. As multidões escutavam, unânimes, as coisas que Filipe dizia, ouvindo-o e vendo os sinais que operava; pois saíam de muitos possessos os espíritos imundos, clamando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos foram curados” (At 8.5-7). Lá surgiu um avivamento e muitas conversões aconteceram.

É neste momento que vem o Espírito e comete seu primeiro erro: encaminha o evangelista a um lugar deserto. Tudo bem planejado por Filipe, as coisas estão indo bem, e o Espírito, de supetão, o remove dali para um lugar inexpressivo. Deus deveria respeitar mais nosso planejamento. Temos bons estrategistas, gente que sabe criar projetos e delinear ações. Mas Deus tem o estranho hábito de fazer as coisas sem nos pedir informações e sem olhar nossa prancheta. Não se tira um obreiro de um lugar em que ele está indo muito bem, fazendo um bom um trabalho, privando o lugar de sua presença marcante. As coisas iam bem por causa do homem certo no lugar certo.

O segundo erro estratégico: tirou o evangelista do meio de muitas pessoas e o encaminhou para esperar que passasse alguém. Veja os contrastes: “multidões” (v. 6) e “muitos” (v. 7) para “deserto” (v. 26). Ora, por que investir em lugares pequenos? Por que enviar um missionário para um vilarejo, ao invés de centrar as forças nos grandes centros urbanos? Faltou-lhe noção de estratégia missionária. Não aprendeu dos missiólogos. Ignorou as modernas técnicas de evangelização mundial. Foi por isso que errou. São Paulo de Piratininga é mais importante que Coxipó de Poconé de Conceição de Mato Dentro. Ter uma igrejona em Sampa é mais importante, estrategicamente falando, que ganhar alguém na periferia de Coxipó.

O terceiro: tirou o evangelista do meio de uma batalha, em que confrontara vitoriosamente o mal, para um lugar pacífico. Simão, o Mago, se decidira. Era só trabalhar mais com ele. Que troféu para exibir! Figurões convertidos ajudam muito na expansão do evangelho. Exibir um ex-alguma coisa dá um ibope terrível! A quem Filipe evangelizaria, no deserto? Lobos? Serpentes? Escorpiões? Para piorar, Pedro já “engrossara o caldo” com Simão: “Mas disse-lhe Pedro: Vá tua prata contigo à perdição, pois cuidaste adquirir com dinheiro o dom de Deus. Tu não tens parte nem sorte neste ministério, porque o teu coração não é reto diante de Deus. Arrepende-te, pois, dessa tua maldade, e roga ao Senhor para que porventura te seja perdoado o pensamento do teu coração; pois vejo que estás em fel de amargura, e em laços de iniqüidade” (At 8.20-23). Figurões que sejam convertidos potenciais devem ser tratados com luvas de pelica! O Espírito também poderia orientar melhor aos missionários. Noções de Relações Púbicas fazem bem.

Por tudo isso, o Espírito Santo seria reprovado na disciplina Estratégia Missionária, num curso de Missiologia. Nós sabemos que o segredo do sucesso está no bom planejamento. Sabemos pensar, fazer projetos, idealizar situações. Tanto que nem precisamos de muita oração. A prancheta substitui o joelho em terra e nos dá a sensação de utilidade. Estamos fazendo alguma coisa para Deus ao invés de esperarmos passivamente. Nós somos proativos, e não reativos, mesmo reativos a Deus. Somos uma denominação que sabe planejar! Vejo cada calhamaço de planejamento! Só não entendo porque, com tanto planejamento, as coisas não melhoram. Bem, quem sabe, precisamos de mais planos…

Sabemos o que aconteceu. Filipe foi para o deserto, ganhou um ministro de Candace, rainha da Etiópia, para Jesus. O homem regressou convertido para seu país, e assim se cumpriu uma profecia bíblica: “estenda a Etiópia ansiosamente as mãos para Deus” (Sl 68.3). E, figurão por figurão, o Espírito sabia qual lhe seria mais útil.

Não se trata de seletividade do Espírito, removendo Filipe do meio do povão e levando-o a uma pessoa importante. É que o plano de Deus estava formado há séculos. Deus já tinha a conversão deste homem em mente, antes do avivamento em Samária. Precisamos conhecer os desígnios divinos para nossas vidas e para seu reino. E ele nos faz conhecê-los na convivência com ele. Não desconsidero os planos, mas considero que buscar a Deus e submeter-se a ele é mais importante que qualquer outra coisa. Geralmente planejamos e pedimos que Deus abençoe os nossos planos. Buscamos conhecer os planos de Deus? Antes de dedicarmos os planos a Deus dedicamos-lhe nossa vida? Nem sempre o segredo do bom sucesso são os planos, mas o caráter espiritual das pessoas sempre pesará muito. A espiritualidade não pode vir a reboque de projetos. A oração não pode ser item em nossas agendas, mas o suporte do que fazemos.

Creio que mais importante que papel e arquivos em computador é a profundidade espiritual. É a oração, não como tópico de agenda administrativa, mas a passional. Receio que a burocracia se torne um shiboleth e sufoque o Espírito Santo. Não é pecado planejar, mas é pecado criar a cultura de que tratamos de um negócio comum, que se atém a regras humanas normais, e não que cuidamos de algo sobrenatural, que não pode nunca deixar de ter abordagem e enfoque sobrenaturais em primeiro lugar. Será que muitas de nossas instituições não estão em crise exatamente por isso? Por que deixaram de ser espirituais e suas engrenagens se tornaram meramente comerciais? Se tem dinheiro em caixa então cumpriu sua missão. Será isto mesmo? Não será por isso que muitas não têm dinheiro em caixa e vão mal em outros setores?

O caráter de Filipe fica bem claro em Atos 6.3: “Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarreguemos deste serviço”. E isto me leva a considerar que a maior necessidade da igreja e das instituições que a servem (como batista entendo que as instituições são servas das igrejas) não é de mais burocracia eclesiástica, mas de pessoas de caráter espiritual elevado. De homens e mulheres espiritualmente rendidos a Deus e completamente entregues em suas mãos para a obra. Penso se não nos sobram planos e escasseiam quebrantamento e vida nas mãos de Deus. É ele quem faz a obra através de pessoas, e não as pessoas que fazem a obra através dos seus planos. “E Deus pelas mãos de Paulo fazia milagres extraordinários” (At 19.11).

Filipe pôde sair do meio do avivamento e ir para o deserto porque não mensurava seu serviço pela contagem de cabeças de decididos, mas sim em termos de espiritualidade obediente. Não são planos ou números. Estes são circunstanciais, secundários e produto da espiritualidade. O que mais importa são vidas nas mãos de Deus. Como a de Filipe. Com vidas assim nas mãos do Espírito de Deus as coisas dão certo. Ele nunca erra.

Pr Isaltino Gomes Coelho

in http://www.davarelohin.com.br

domingo, 1 de maio de 2011

Dois tipos de igrejas; dois tipos de crentes

Ouvi, algum tempo atrás, alguém me contar o conteúdo da conversa entre dois rapazes. Um deles disse ao amigo: “Minha igreja é o máximo! Como eu me sinto bem lá! Não há nada que me entristeça ou desaponte. Quando estou lá, é como se o mundo e a vida fossem perfeitos. Parece que estou no céu”.

O amigo ouviu esse relato e, após alguns segundos de silêncio em uma atitude reflexiva, respondeu: “Eu também gosto da minha igreja. Amo estar com meus irmãos e participar de todos os cultos e programações. Mas quando canto sobre a glória e a santidade de Deus e quando ouço a pregação da Palavra, não consigo parar de pensar em quanto estou longe daquilo que eu deveria ser e em quanto ainda eu preciso crescer no caráter cristão. Em alguns momentos eu fico desapontado. Mas meu desapontamento é comigo mesmo e com o pecado que pratico. Sofro por causa dele. Às vezes, até choro arrependido. Porém, a esperança de um dia viver com Deus, livre de defeitos, é o que me encoraja a continuar servindo cada vez mais a Cristo e a buscar a santidade na minha vida. Quando estou na igreja, não me sinto no céu... eu desejo chegar logo no céu!”.

Quem me contou essa história, também me explicou que esse segundo jovem pertence a uma igreja séria que enfatiza o ensino bíblico. Já o primeiro rapaz pertence a uma dessas comunidades voltadas ao público jovem cuja ênfase está na música e em programações “legais”, enquanto as Escrituras são tratadas com superficialidade por “pastores” sem preparo teológico. Com tal explicação, tudo ficou mais claro.

Além da óbvia constatação de que a igreja que menospreza a Bíblia se desvia dos caminhos e dos propósitos do Senhor, outra coisa me deixou pensativo: “Como pensam os membros das igrejas bíblicas? Será que todos pensam como o segundo jovem?”. Temo que a resposta não seja tão encorajadora.
Enquanto muitos crentes permanecem tratáveis diante das Escrituras e do pastoreio dos seus líderes, uma nova “raça” está se cristalizando nas fileiras eclesiásticas. Trata-se de um grupo que trouxe para dentro da igreja o individualismo dos nossos dias, de modo a não terem, de fato, comunhão com o corpo de Cristo. Também carregam os princípios do “Código de Defesa do Consumidor” não cogitando qualquer dever que tenham como membros de uma igreja, mas apenas os direitos que têm e o modo como devem ser respeitados pelos outros. Para piorar, importam do mundo uma noção tosca de que a igreja deve adulá-los a fim de não perdê-los, como se fossem fregueses de uma grande loja.

Tudo isso é estranho ao ensino bíblico. A igreja, para o crente, deve ser alvo da sua mais carinhosa atenção e cuidado (2Co 11.28), das suas orações constantes (1Ts 3.10) e do seu mais sincero amor (Ef 1.15, Cl 1.4). O crente deve ter a nítida convicção de que, como noiva de Cristo, a igreja pertence ao Senhor e, por isso, há um modo definido de ela se comportar (1Tm 3.15) no qual ela se submete ao seu Senhor (Rm 7.4-6; Ef 5.24) para produzir glória ao seu nome (Ef 3.21). Apesar de características tão específicas e marcantes para o conjunto de crentes que chamamos de “corpo de Cristo” (Ef 1.22,23), à semelhança de um corpo humano, a igreja também é formada de partes individuais (Rm 12.4,5). Assim, falar sobre as características da igreja é o mesmo que falar sobre o papel e a responsabilidade de cada crente em si. A igreja é o que seus membros são. Para termos uma igreja verdadeira, sadia e bíblica, precisamos ser, cada um de nós, crentes verdadeiros, sadios e bíblicos.

Por fim, todos nós devemos nos fazer duas perguntas: “Que tipo de igreja é a minha?” e “que tipo de crente sou eu?”.

Pr. Thomas Tronco''