sexta-feira, 29 de julho de 2011

PRECE DO AMOR DEMAIS


Quando penso, Senhor, naquele amor sublime
Como nem no céu existem dois iguais:
Amor que te fez amar o mundo inteiro,
Que te levou ao vitupério do madeiro
Quando, Senhor, quiseste amar demais.

Desejo também amar meu semelhante,
Como se minha alma nele residisse,
Sentir o peso do seu sofrimento,
Seu drama, sua dor, seu desalento,
Como se na própria carne eu sentisse.
Quero amar os revoltados, os escravos do vício,
Os quase suicidas, as vítimas da guerra.

Quero amar os velhinhos cansados,
As crianças sem mãe, os condenados,
O pobre, o doente – os últimos da terra.

Quero amar os ricos, os sábios, os poderosos,
Sem sentir inveja e sem bajulação.
Quero amar as tribos, as ilhas, o mundo,
Os homens da cidade, a gente do sertão.

Quero amar assim tão completamente,
Como só sabe amar aquele que Te ama.
E depois partir, silenciosamente,
Qual fósforo que se consome
Ao acender a chama.

Perdoa a pretensão do meu desejo
E se insisto, Senhor, uma vez mais;
Mais para que o mundo possa Te ver em mim
É preciso que eu suplique assim:
- Ensina-me, Senhor, a amar demais.

Myrtes Mathias