domingo, 5 de dezembro de 2010

Uma antiga crônica de Natal

Nos anos 80, publiquei no Jornal Cristão, uma crônica do Pastor Alberto Blanco de Oliveira publicada anteriormente no Jornal de Oração da Cruzada Mundial de Literatura.
Na época do Natal, os leitores sempre me pediam para publicá-la novamente. Remexendo o Baú, encontrei-a e resolvi publicá-la mais uma vez, desta vez na NET.
Ei-la:
NATAL PARA TODOS
Pai Celeste, mais uma vez temos diante de nós o Natal. Dia de festa para comemorar o nascimento de Jesus entre os povos chamados Cristãos.
Os homens arranjaram uma árvore bem verde e muito bonita. Penduraram enfeites coloridos e até luzes multicores para torná-la ainda mais bela. Esqueceram-se, todavia, da “Raiz de Jessé”. Por isso, ela murcha tão depressa. Em cima dela puseram uma estrela, que não é, porém a “Estrela da Manhã”.
Os comerciantes também participam da festa e passaram a ser os principais promotores dela. Fazem de tudo para alargar as suas portas e torná-las mais atraentes. Esqueceram-se, entretanto, de honrar aquele que disse “Eu Sou a Porta”. Arranjaram ovelhas e carneirinhos para decorar suas vitrines, mas não se lembram de colocar ali o “Bom Pastor”, nem se recordam do “Cordeiro de Deus” que tira o pecado do Mundo.
Tudo fica mais bonito porque acendem-se muitas luzes de todos os matizes. O mundo inteiro fica iluminado, mas não com a luz daquele que disse: “Eu sou a Luz do mundo, quem me segue não andará em trevas, mas terá a Luz da Vida”. Tudo fica iluminado, menos os caminhos espirituais, porque os homens não aceitaram, ainda, aquele que disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida, ninguém vem ao Pai senão por mim”.
Senhor, o que mais se vê no Natal é o desejo de vestir-se e comer bem. Todos compram roupa nova, todos preparam pratos deliciosos e refeições especiais. A lição do Mestre sobre os lírios, que sem qualquer preocupação se vestem melhor que o Rei Salomão, não foi aprendida. O “Pão da Vida” não é o alimento preferido por aqueles que pretendem comemorar o nascimento do “Príncipe da Paz”, em meio a batalha pela sobrevivência.
Ó Deus, o mundo fica até perfumado com tantas rosas e tantas flores, mas não se sente o aroma da “Rosa de Sarom”.
E assim, será, Senhor, até que voltes para julgar os homens. Naquele dia então serás reconhecido como “Reis do Reis e Senhor dos Senhores”.
Pai Celeste, move os nossos corações para fazermos o Natal de alguém com menos do que nós mais alegres para que assim, o nosso Natal seja mais Feliz.
“Glória a Deus nas Alturas”.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A conversão do rasgador de panfleto

Em uma bela cidade
Do nosso Brasil varonil
Houve um fato interessante
Que muito repercutiu
Foi no meio evangélico
A maior repercussão
Um moço testemunhava
Sobre sua conversão
E como foi que colocou
Jesus em seu coração

Um crente evangelizava
Pelas ruas da cidade
Entregando literatura
Anunciando a verdade
Com um moço encontrava-se
Como quem vem do trabalho
E naquele itinerário
Todo dia, no horário
O crente lhe entregava
O panfleto literário

O moço não se agradava
Com cara feia rasgava
Sem nenhuma educação
Jogava na rua e saia
E muita gente assistia
A sua ingratidão
Mais sempre que encontrava
Esta mesma criatura
O crente lhe entregava
A fiel literatura

Um dia o moço pegou
O panfleto ofertado
Rasgou em pedacinhos
E jogou bem para o alto
E foi pra casa contente
Por ter mais uma vez
Rasgado a literatura
Que tanto lhe incomodava
Quando o crente entregava
Pra ele naquela rua

Mais assim que aquele moço
Em sua casa chegou
Tirou a camisa e jogou
Em um canto do seu quarto
Do seu bolso lá voou
Um pedaço de papel
O moço então pegou
Mais para surpresa sua
Era um dos pedacinhos
Daquela literatura

O moço resolveu lê
No quarto sem ninguém ver
O que estava escrito
E ficou muito à-vontade
Longe do crente e amigos
Mais algo lhe atraiu
No pedaço de papel
E sem que alguém visse
Leu que tava escrita
A frase, Jesus disse

Jesus disse, Jesus disse
Repetia sem parar
Jesus disse, Jesus disse
No banheiro a banhar
Jesus disse, Jesus disse
Na mesa ao jantar
Jesus disse, Jesus disse
Na cama ao deitar
Jesus disse, Jesus disse
Ele ficava a falar

Dormiu e assim sonhava
Repetindo a mesma frase
Jesus disse, Jesus disse
Em sua mente falava
E amanhecendo o dia
Consigo se surpreendeu
Pois ele não entendeu
O que tava acontecendo
Jesus disse, Jesus disse
Ele continuava dizendo

E quase em desespero
Resolveu falar ligeiro
E o que foi que Jesus disse
Agora quero saber
Vou falar com aquele crente
E ele vai me dizer
E saiu para o trabalho
Na manhã daquele dia
Jesus disse, Jesus disse
Em sua mente fluía

E quando chegou o horário
Fez o mesmo itinerário
E encontrou o irmão
Entregando literatura
Cumprindo sua missão
E o moço lhe parou
E pediu sua atenção
O que foi que Jesus disse
Pois minha mente insiste
E arde meu coração

E o crente ouviu sua história
Deu aleluia e glorias
E disse eu vou dizer
O que foi que Jesus disse
Para mim e pra você
Esta escrito na Bíblia
Jesus disse eu sou o caminho
A verdade e a vida
E ainda falou assim
Sou o princípio e o fim

Jesus disse e eu te digo
Falo-te de coração
Entrai pela porta estreita
Porque larga e a porta
Que conduz a perdição
Jesus disse e eu te digo
Usando de muita calma
Que aproveita ao homem
Ganhar o mundo inteiro
E perde a sua alma

Jesus disse e eu te digo
Vinde a mim todos os cansados
Maltratados e oprimidos
E disse mais, com atenção
Tomai sobre vos o meu jugo
E aprendei de mim que sou manso
E humilde de coração
E ainda disse com amor
Quem rejeita a mim
Rejeita quem me enviou

O crente continuou
Dizendo o que Jesus disse
O moço se convenceu
O que Jesus disse ele creu
Depois falou para o crente
Um novo crente sou eu
E foi assim meus leitores
Como acabaste de ler
Que o rasgador de panfleto
Veio a se converter
FIM
AUTOR João Batista Menezes Nascimento

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Procura-se uma Igreja Velha

  • Pr. Adelino Ferreira   in Blog do Pr. Adelino



No passado, éramos chamados de 'crentes' e éramos respeitados. Eu tinha 16 anos, trabalhava num escritório, na 7 de Setembro, no Rio. Numa noite, roubaram o cofre da empresa. A polícia veio investigar. Fim do expediente, eu precisava sair porque estudava. Um policial disse: 'Deixa o menino ir. Ele é crente e crente não faz isso'.Não era eu, como pessoa. Eram os crentes. Acima de suspeita.
Depois viramos 'evangélicos'. Alguns são ' gospel'.
Mas quando éramos respeitados, o caráter era trabalhado em nossas igrejas.
A ênfase mudou. Passou a ser o poder espiritual... Daí para o poder material e político foi um passo, porque não era o quebrantamento espiritual, mas poder espiritual para dominar.
Nesta busca de poder, o que nos limitava foi posto de lado, pouco a pouco, a Bíblia.
Porque ela estabelece padrões e limites.
Foi substituída por uma enxurrada de revelações, de profecias, de era do Espírito, onde líderes nem sempre sensatos fogem ao controle das Escrituras e ditam sua visão pessoal como palavra divina. 
O senso crítico se esvaiu.
De pastor passou-se a bispo. De bispo a primaz. De primaz a apóstolo. De apóstolo a pai apóstolo. 
Uma megalomania que evidencia desequilíbrio gravíssimo. Como há desequilibrados em nossas igrejas!
O evangelho produz saúde, não doença!
Quem chama à sanidade espiritual e emocional é frio, ressentido porque o rebanho não cresce.
A ética cedeu à celebração.
Vale mais o culto festivo que o culto reflexivo, de análise da vida diante de Deus, de conserto, de afirmação de valores. 
O narcisismo é chocante.
Pasmei num congresso em que preguei. Um típico programa de auditório: música pauleira e manipulação. A entrada do cantor em palco foi doentia. Luzes apagadas, rufar de instrumentos, luzes sobre ele, de cabeça baixa, até levantá-la em ar triunfal.
E a gritaria. Senti-me fisicamente mal. E envergonhado. 
Não foi isso que aprendi na Bíblia.
A Convenção eclesiastica em que faço parte, em excelente documento, pede um Brasil novo, à luz dos gravíssimos casos de corrupção no país.
Mas junto com o Brasil novo precisamos clamar por 'uma igreja velha'.
Uma igreja velha, sim. Uma igreja antiga.
Uma igreja em que a Bíblia seja pregada, em que a crença no poder do Espírito para fazer a obra crescer nos leve a prescindir de atos desonestos, de manipulações e de extorsão na contribuição.
Uma igreja velha em que evangelizemos, e não agridamos.
Em que aceitemos o crescimento dado pelo Espírito, e não o de 'marketing'.
Uma igreja velha, onde caráter seja mais importante que os nomes de figurões usados para adornar a igreja.
Uma igreja velha em que o evangelho não ceda lugar à convivência amiga, sem contestações e sem exigências, 'porque precisamos atrair as pessoas'.
Uma igreja velha que pregue Jesus e não política.
E que não chame de 'alienados' os que pregam que 'Jesus salva' e que só Jesus pode mudar o mundo.
Que minha igreja, que aprendi a amar, seja uma igreja velha. Cheia de 'crentes' e não de ' gospéis' (céus!).
Se ela não quiser, este pastor maduro, que se sente 'velho', terá que buscar uma 'igreja velha'.
Mas está tão difícil achar crentes 'velhos' e 'igrejas velhas'!

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Orações engraçadas

- Senhor, me dá a vitoria, assim orava em voz alta, um irmão em uma igrejinha do interior. Os que estavam perto se condoíam com o clamor e também oravam: - Senhor concede a vitória para esse irmão!
Algum tempo depois o irmão parou de orar desta forma e um daqueles irmãos que o ajudavam na oração perguntou:
- E daí irmão? O Senhor já lhe concedeu a vitória?
- Não irmão. A Vitória casou-se com outro!



Outro irmão muito simples orava dessa forma:
- Senhor, me dá uma jabiraca com cavalinho! E se repetia por varias vezes em sua oração. Meses depois, um irmão que se sentava perto, condoído com a situação, sentiu-se impulsionado a falar com o irmão e dar-lhe o dinheiro para comprar uma carroça com cavalo.
- Recebi um abono extra na empresa e o Senhor me tocou para ajudá-lo. O irmão vê quanto custa esta jabiraca, que eu vou lhe dar de presente.
- Irmão, a jabiraca custa caro. Será que o senhor tem dinheiro para tanto?
- Muito caro? Que jabiraca é essa? Custa menos de 500 reais, não?
- É aquela vermelha que o Ronaldinho tem. Tem um cavalinho na frente. Tal de Ferrari...



Uma senhora orava desta maneira:
- Senhor, salva o meu genro, mas não deixa a Policia prender ele, senão ele vai ter de devolver o dinheiro que roubou do banco, daí a gente vai passar fome...

Outra orava assim:
-Oh Senhor! Prepara um esposo para minha filha! Que seja rico, bonito, trabalhador e que não a maltrate. (faltou orar para que fosse um cristão que a amasse!)



Um jovem orava:
- Senhor, me envia para a obra missionária! Eu quero pregar a Tua palavra aos moradores daquele país! Envia-me para os Estados Unidos... (Para a famélica África ou o paupérrimo Vale do Jequitinhonha, ninguém quer ir)



Em uma dessas comunidades neo-pentecostais, um visitante notou um rapaz cabeludo que gritava:
- Senhor, eu quero unção! Dá-me unção, Senhor!
Maravilhado comentou com outro irmão que estava perto:
- Que bonito! Tão jovem e já pede para ser cheio de poder, ao que o irmão respondeu
sorrindo:
-Ele está pedindo um som novo, pois o que ele tinha queimou...

Existem várias outras estórias engraçadas, mas o importante é compreender que em todas elas, quer seja bonitinhas, eloqüentes ou feitas de formas desajeitadas, o Senhor ouve todas e responde conforme a Sua vontade.

A oração é a força do fraco
A saúde do doente
O tesouro do pobre
A alegria do triste
O consolo do desesperado
O alimento do faminto.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Tarde demais....

   Naquela manhã, sentiu vontade de dormir mais um pouco. Estava cansado porque na noite anterior fora deitar muito tarde. Também não havia dormido bem. Tinha tido um sono agitado. Mas logo abandonou a idéia de ficar um pouco mais na cama e se levantou, pensando na montanha de coisas que precisava fazer na empresa.
Lavou o rosto e fez a barba correndo, automaticamente. não prestou atenção no rosto cansado nem nas olheiras escuras, resultado das noites mal dormidas. Nem sequer percebeu um aglomerado de pelos teimosos que escaparam da lâmina de barbear. “A vida é uma seqüência de dias vazios que precisamos preencher”, pensou enquanto jogava a roupa por cima do corpo.
Engoliu o café e saiu resmungando baixinho um “bom dia”, sem convicção. Desprezou os lábios da esposa, que se ofereciam para um beijo de despedida. Não notou que os olhos dela ainda guardavam a doçura de mulher apaixonada, mesmo depois de tantos anos de casamento. Não entendia por que ela se queixava tanto da ausência dele e vivia reivindicando mais tempo para ficarem juntos. Ele estava conseguindo manter o elevado padrão de vida da família, não estava? Isso não bastava?
Claro que não teve tempo para esquentar o carro nem sorrir quando o cachorro, alegre, abanou o rabo. Deu a partida e acelerou. Ligou o rádio, que tocava uma canção antiga do Roberto Carlos, “detalhes tão pequenos de nós dois…” Pensou que não tinha mais tempo para curtir detalhes tão pequenos da vida. Anos atrás, gostava de assistir ao programa de Roberto Carlos nas tardes de domingo. Mas isso fazia parte de outra época, quando podia se divertir mais.
Pegou o telefone celular e ligou para sua filha. Sorriu quando soube que o netinho havia dado os primeiros passos. Ficou sério quando a filha lembrou-o de que há tempos ele não aparecia para ver o neto e o convidou para almoçar. Ele relutou bastante: sabia que iria gostar muito de estar com o neto, mas não podia, naquele dia, dar-se ao luxo de sair da empresa. Agradeceu o convite, mas respondeu que seria impossível. Quem sabe no próximo final de semana? Ela insistiu, disse que sentia muita saudade e que gostaria de poder estar com ele na hora do almoço. Mas ele foi irredutível: realmente, era impossível.
Chegou à empresa e mal cumprimentou as pessoas. A agenda estava totalmente lotada, e era muito importante começar logo a atender seus compromissos, pois tinha plena convicção de que pessoas de valor não desperdiçam seu tempo com conversa fiada.
No que seria sua hora do almoço, pediu para a secretária trazer um sanduíche e um refrigerante diet. O colesterol estava alto, precisava fazer um check-up, mas isso ficaria para o mês seguinte. Começou a comer enquanto lia alguns papéis que usaria na reunião da tarde. Nem observou que tipo de lanche estava mastigando. Enquanto engolia relacionava os telefones que deveria dar, sentiu um pouco de tontura, a vista embaçou. Lembrou-se do médico advertindo-o, alguns dias antes, quando tivera os mesmos sintomas, de que estava na hora de fazer um check-up. Mas ele logo concluiu que era um mal-estar passageiro, que seria resolvido com um café forte, sem açúcar.
Terminado o “almoço”, escovou os dentes e voltou à sua mesa. “A vida continua”, pensou. Mais papéis para ler, mais decisões a tomar, mais compromissos a cumprir. Nem tudo saía como ele queria. Começou a gritar com o gerente, exigindo que este cumprisse o prometido. Afinal, ele estava sendo pressionado pela diretoria. Tinha de mostrar resultados. Será que o gerente não conseguia entender isso?
Saiu para a reunião já meio atrasado. Não esperou o elevador. Desceu as escadas pulando de dois em dois degraus. Parecia que a garagem estava a quilômetros de distância, encravada no miolo da terra, e não no subsolo do prédio.
Entrou no carro, deu partida e, quando ia engatar a primeira marcha, sentiu de novo o mal-estar. Agora havia uma dor forte no peito. O ar começou a faltar… a dor foi aumentando… o carro desapareceu… os outros carros também… Os pilares, as paredes, a porta, a claridade da rua, as luzes do teto, tudo foi sumindo diante de seus olhos, ao mesmo tempo em que surgiam cenas de um filme que ele conhecia bem. Era como se o videocassete estivesse rodando em câmara lenta. Quadro a quadro, ele via esposa, o netinho, a filha e, uma após outra, todas as pessoas que mais gostava.
Por que mesmo não tinha ido almoçar com a filha e o neto? O que a esposa tinha dito à porta de casa quando ele estava saindo, hoje de manhã? Por que não foi pescar com os amigos no último feriado? A dor no peito persistia, mas agora outra dor começava a perturbá-lo: a do arrependimento. Ele não conseguia distinguir qual era a mais forte, a da coronária entupida ou a de sua alma rasgando.
Escutou o barulho de alguma coisa quebrando dentro de seu coração, e de seus olhos escorreram lágrimas silenciosas. Queria viver, queria ter mais uma chance, queria voltar para casa e beijar a esposa, abraçar a filha, brincar com o neto… queria… queria… mas não deu tempo…

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Criação

No principio
os dedos do Verbo
teceram o pó.
E do pó
o homem brotou.

Lúcio Ricardo Siles(Lurisi)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

AS TRÊS ÁRVORES - Poema de Myrtes Mathias

Era uma vez, no meio da floresta,
três árvores, que conversavam:
- Quando eu crescer – dizia a primeira
– quero ser transformada no berço
de um príncipe,de um herdeiro real.
A segunda arvorezinha,
pequena aventureira,
falou:
- Eu quero ser um barco, grande e forte,
desses que singram os mares do norte,
levando tesouros e riquezas.
- E tu – perguntaram à menor delas
– nada vais ser?
- Oh! estou feliz de ser o que sou!
Quero ser sempre árvore,
no alto da montanha,
apontando para o meu Criador...

O tempo passou.
Vieram os homens,
e levaram a primeira arvorezinha.
Mas não fizeram dela
nenhum berço trabalhado.
Pelo contrário, mãos rudes a cortaram
transformando-a numa manjedoura,
onde os animais vinham comer.
E, ao ver-se ali,no fundo da estrebaria,
a pobre árvore gemia:
- Ai de mim! tantos sonhos transformados
num simples tabuleiro de capim!
Mas, lá do Alto, uma voz chegou:
- Espera e verás o que tenho preparado para ti.
E foi assim que,
numa bela noite de verão,
na estrebaria, uma luz brilhou,
quando alguém, se curvando sobre a manjedoura,
nela colocou um neném envolto
em faixas e paninhos.
Oh! era tão jovem a mãe,
tão lindo o pequenino,
que, se lágrimas tivesse,
teria chorado de emoção!
Principalmente, quando ouviu os anjos
e compreendeu:
- Que lindo destino o meu!
Em mim dorme mais que um príncipe,
mais que um rei – o meu Deus!

O tempo passou, passou...
Da segunda árvore a vez chegou.
Levaram-na para os lados do mar.
Mas, oh! decepção!
Nada de grande navio,
 nem mesmo um barco de recreio.
Simplesmente,
humilhantemente,
um barco de pescar.

- Ai de mim!
Que foi feito dos grandes sonhos meus?
Viagens, tesouros,
alto-mar?
- Espera e verás o que tenho para ti
–a árvore pareceu ouvir,
enquanto na praia alguém acenava,
pedindo para ser transportado.
Que olhar sublime!
Que poder na voz, ao ordenar:
- Pedro, lança outra vez a tua rede ao mar!
A pesca maravilhosa aconteceu,
e o barquinho estremeceu:
Que maior tesouro poderia transportar
que o Soberano do céu,
o Senhor de toda a terra,
o próprio Dono do mar?

Mas, eis que chega a vez
da última arvorezinha,
aquela que desejara apenas
ser árvore apontando para Deus.
Havia um prenúncio de tragédia,
já na face daqueles que a foram procurar.
Eram homens taciturnos, revoltados,
que a desbarataram apressadamente,
como se o trabalho lhes causasse horror.
Levaram-na para a cidade,
cortaram-na em duas partes,
que negros pregos uniram,
dando a forma de uma cruz.

- Deus do céu! Que aconteceu comigo?
Eu, que desejei apenas ser
um marco amigo,
apontando o teu céu de luz?
Por que me transformaram nesta cruz?
Mas o consolo chegou também ali:
- Espera e verás
o que tenho preparado para ti.
Vieram os soldados,
levantaram a cruz,
e a puseram sobre os ombros
de um homem coroado.
Só que a coroa que ele trazia,
não era de ouro nem de pedrarias:
era de espinhos!
Uma horrível coroa,
que fazia cair
pelos caminhos
o sangue daquele estranho
condenado,
que não blasfemava,
não fugia,
cuja face macerada refulgia,
mesmo sob o sangue e o suor!
Mas havia uma dor maior naquela face,
mais profunda que a dos espinhos,
da carne rasgada pelos açoites,
do peso que fazia tropeçar.
Dor maior, jamais contemplada,
atravessou a cidade,
subiu o monte Calvário,
foi levantada na cruz.
Dor antiga,
antes do início do mundo,
erro de todos os homens,
miséria de toda a terra,
ausência do próprio Deus.
Uma dor só entendida quando
o sublime condenado,
erguendo os olhos ao céu
e, como quem rasga a alma,
num grande brado, indagou:
- “Meu Deus, meu Deus,
por que me desamparaste?”

E a resposta chegou,
na terra, que escureceu,
nos mortos, que ressurgiram,
no véu do templo rasgado,
na exclamação do soldado:
“...este era o Filho de Deus!”
Naquele instante de treva,
do silêncio mais profundo,
para a árvore fez-se luz.
Ali estava seu sonho
para sempre eternizado:
para perdão dos pecados,
a partir daquele instante,
os homens se voltariam,
como único recurso,
sempre, sempre, para a cruz.
E assim entrou para a história,
com a sorte bela,inglória,
que dupla missão encerra:
aos homens aponta o céu,
a Deus lembra a dor da terra...
Assim eu, também, Senhor,
gostaria de saber:
Por que foi que vim aqui?
Para dócil obedecer
o que traçaste pra mim?
Mas, seja qual for meu destino
–berço, barco, triste cruz –
dá-me a graça, Jesus,
de em tudo compreender
que o importante é teu Plano,
a mim cumpre obedecer.
Seja berço do Menino,
todo hosana, graça e luz;
barco para teus milagres,
seja a vergonha da cruz,
o que importa é teu reino,
a tua glória, Jesus!

Do livro Encontro Marcado (Editora JUERP, 1981).

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Tempos Mágicos

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
ampulhetaJá não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talento e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da idade cronológica, são imaturas.
Não quero ver o ponteiro do relógio avançando em reuniões de ‘confrontação’, onde ‘tiramos fatos a limpo’.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo ‘majestoso’ cargo de Secretário Geral.
Lembrei-me, agora, de Mário de Andrade, que afirmou: ‘as pessoas não debatem conteúdos, apenas rótulos’. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero essência, minha alma tem pressa…
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana, que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados e deseja tão somente andar ao lado de Deus.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.
O essencial faz a vida valer a pena!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A mais bela poesia


Fica, Senhor, comigo!

Gióia Júnior



Fica, Senhor, comigo; a noite é vasta e fria.
Segura a minha mão, até que chegue o dia.
Em Tua companhia é claro o meu caminho
e eu não quero ficar para sempre sozinho.
Não fosse o Teu cuidado, e eu, por certo, estaria
abatido e infeliz, numa senda de espinho.

Fica, Senhor, comigo; o coração da gente
é fraco e pequenino e bate fortemente
ao ruído menor dos prenúncios fatais,
de procelas cruéis e rudes temporais...
Dá que eu possa sentir, Senhor, eternamente,
amparando meu ser, Teus braços paternais.

Fica, Senhor, comigo; a mocidade passa
como a leve espiral escura de fumaça
e a solidão do velho é triste e sem alento
e plena de incerteza e mau pressentimento.
A Teu lado eu terei consolo na desgraça,
conforto na miséria e paz no sofrimento.

Fica, Senhor, comigo; os meus olhos sem luz
querem também Te ver na Estrada de Emaús
da minha vida, pois só Tu és meu abrigo,
meu amigo melhor, meu verdadeiro amigo.
Por isso é que Te peço, ó bendito Jesus,
eu não quero estar só. Fica, Senhor, comigo!

Uma Crônica de Gióia Junior


O NÓ DA GRAVATA

" Com sua fala mansa ele chegou perto de mim e pediu:
- Pai, faz o nó da gravata!
Era o dia pacientemente esperado e que, depois de muita insônia e ansiedade havia chegado, o dia glorioso do seu casamento. Ele que se preparava para alçar vôo, para romper com suas próprias asas, nuvens e céu azul, vento de tempestade e brisa leve, para abrir com o seu alentado molho de chaves as inúmeras fechaduras das novas responsabilidades de chefe de família, nem mesmo um nó de gravata sabia fazer.

E mais uma vez eu me senti necessário e protetor. Aliás, durante todo o período de preparação do casamento, ao amargo sentimento do afastamento do filho se somava o orgulho justificado de ser indispensável, de romper com minhas mãos o caminho dele, derrubando árvores, afastando obstáculos, abrindo clareiras.

Durante toda a longa espera, as mil teias de responsabilidades que antecedem um casamento, ele nem de leve imaginou que pais e irmãos a todo o instante tiveram que se afastar para esconder as lágrimas que pudesse colocar uma arranhadura de tristeza no vidro transparente de sua alegria derramada.

Chegavam os telegramas e ele esfregava as mãos de contente. Chegavam os presentes e ele abria os pacotes rasgando apressadamente os papéis coloridos e rompendo com força desusada os cordões e fitas, esfregando as mãos de contente. E lia os cartões com os nomes preciosos dos amigos fiéis, e esfregava as mãos. No chão da sala a montanha de presentes com pacotes de todos os tamanhos e cores ia formando uma grande pirâmide. E muitas vezes o encontrei parado ali em frente como um vencedor que contempla troféus de vitória depois de dura batalha.

Muitas vezes me pediu para fazer o nó da gravata. Ele sempre usou camisa esporte, a roupa simples e desbotada da juventude, nunca teve a preocupação do colarinho engomado, do paletó e gravata. Tanto para ir à escola ou ao trabalho, o traje predileto era a camisa mais solta e calça mais velha e o sapato mais identificado com os pés, após muito tempo de uso.
Mas, agora ele assumia novas responsabilidades: uma nova era se iniciava, com as próprias mãos, pelo seu próprio esforço, disposição e coragem abriria suas estradas e marcharia confiante, rumo ao futuro.

Senti um nó na garganta apertando o nó da gravata de meu filho e comecei a sentir falta até do que antes fora contrariedade: uma porta que custa a se abrir na madrugada, uma camisa minha que ele resolve pôr, um par de meias que ele tira da minha gaveta sem avisar, um barbeador meu que ele deixa na pia sujo de pêlos após a barba, a pasta de dente aberta, as gavetas revolvidas e escancaradas, o farelo de pão e bolo atirados no carpete, a televisão ligada a noite inteira porque ele esqueceu de desligar, o barulho da televisão e do aparelho de som não me deixando dormir.

Tudo correu bem durante o casamento. Os amigos não faltaram, os braços se solidarizavam com minha alegria e tristeza. E enquanto nós, seu pai, sua mãe e seus irmãos choramos escondidos e disfarçados a sua dura ausência, ele viveu o momento maior de sua vida, sua alegria e realização. E no quarto em que, com sua amada começou a escrever o poema de uma longa existência feliz, não houve lugar nem mesmo para uma poerinha de saudade, lembrança ou dúvida. Tudo era fogueira de arrebatamento e caudal de esperança.

Combinamos que no fim da tarde do dia seguinte os encontraríamos para levá-los ao aeroporto, de onde com malas e bagagens partiriam para prosseguir na lua-de-mel.

Chegamos e eles já estavam prontos apagando luzes e fechando portas, bem vestidos e de rosto resplandecente.

No seu pescoço a gravata vermelha tinha um nó impecável. Perguntei:

- Quem fez o nó em sua gravata?

- Fui eu mesmo. Ficou bom? - respondeu vaidoso de sua proeza.

E foi ali, vendo que até nó de gravata o novo chefe de família sabia fazer, que entendi que eu já não seria mais necessário. Minha missão estava cumprida."

O que vai aqui

    Resolvi criar este blog pra colocar um pouco de tudo o que de bom se tem publicado no meio evangélico, seja em forma de poesia, prosa, fotos, charges etc... Boa leitura!