segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Procura-se uma Igreja Velha

  • Pr. Adelino Ferreira   in Blog do Pr. Adelino



No passado, éramos chamados de 'crentes' e éramos respeitados. Eu tinha 16 anos, trabalhava num escritório, na 7 de Setembro, no Rio. Numa noite, roubaram o cofre da empresa. A polícia veio investigar. Fim do expediente, eu precisava sair porque estudava. Um policial disse: 'Deixa o menino ir. Ele é crente e crente não faz isso'.Não era eu, como pessoa. Eram os crentes. Acima de suspeita.
Depois viramos 'evangélicos'. Alguns são ' gospel'.
Mas quando éramos respeitados, o caráter era trabalhado em nossas igrejas.
A ênfase mudou. Passou a ser o poder espiritual... Daí para o poder material e político foi um passo, porque não era o quebrantamento espiritual, mas poder espiritual para dominar.
Nesta busca de poder, o que nos limitava foi posto de lado, pouco a pouco, a Bíblia.
Porque ela estabelece padrões e limites.
Foi substituída por uma enxurrada de revelações, de profecias, de era do Espírito, onde líderes nem sempre sensatos fogem ao controle das Escrituras e ditam sua visão pessoal como palavra divina. 
O senso crítico se esvaiu.
De pastor passou-se a bispo. De bispo a primaz. De primaz a apóstolo. De apóstolo a pai apóstolo. 
Uma megalomania que evidencia desequilíbrio gravíssimo. Como há desequilibrados em nossas igrejas!
O evangelho produz saúde, não doença!
Quem chama à sanidade espiritual e emocional é frio, ressentido porque o rebanho não cresce.
A ética cedeu à celebração.
Vale mais o culto festivo que o culto reflexivo, de análise da vida diante de Deus, de conserto, de afirmação de valores. 
O narcisismo é chocante.
Pasmei num congresso em que preguei. Um típico programa de auditório: música pauleira e manipulação. A entrada do cantor em palco foi doentia. Luzes apagadas, rufar de instrumentos, luzes sobre ele, de cabeça baixa, até levantá-la em ar triunfal.
E a gritaria. Senti-me fisicamente mal. E envergonhado. 
Não foi isso que aprendi na Bíblia.
A Convenção eclesiastica em que faço parte, em excelente documento, pede um Brasil novo, à luz dos gravíssimos casos de corrupção no país.
Mas junto com o Brasil novo precisamos clamar por 'uma igreja velha'.
Uma igreja velha, sim. Uma igreja antiga.
Uma igreja em que a Bíblia seja pregada, em que a crença no poder do Espírito para fazer a obra crescer nos leve a prescindir de atos desonestos, de manipulações e de extorsão na contribuição.
Uma igreja velha em que evangelizemos, e não agridamos.
Em que aceitemos o crescimento dado pelo Espírito, e não o de 'marketing'.
Uma igreja velha, onde caráter seja mais importante que os nomes de figurões usados para adornar a igreja.
Uma igreja velha em que o evangelho não ceda lugar à convivência amiga, sem contestações e sem exigências, 'porque precisamos atrair as pessoas'.
Uma igreja velha que pregue Jesus e não política.
E que não chame de 'alienados' os que pregam que 'Jesus salva' e que só Jesus pode mudar o mundo.
Que minha igreja, que aprendi a amar, seja uma igreja velha. Cheia de 'crentes' e não de ' gospéis' (céus!).
Se ela não quiser, este pastor maduro, que se sente 'velho', terá que buscar uma 'igreja velha'.
Mas está tão difícil achar crentes 'velhos' e 'igrejas velhas'!

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